sábado, 9 de outubro de 2010

BE HAPPY NA VEJA SÃO PAULO - CONFRARIA 2010

por Raul Zito

PESQUISAR, GASTAR E CASAR

Evento simula festa para que 400 noivos testem — e contratem — serviços variados para a esperada hora do 'sim'
Por João Batista Jr.

O manobrista do valet abre o carro, a recepcionista confere o nome na lista e os garçons oferecem taça de espumante assim que alguém pisa no lounge, onde há um baú repleto de bem-casados. Sim, trata-se de uma festa de casamento. Não há, no entanto, troca de alianças ou bênção do padre. E mais: os convidados são cerca de 400 noivos. Eles não pagam nada para testar serviços como bufê, coral, decoração, florista e boleiras, além do dia da noiva, das Havaianas customizadas e dos aromatizadores de ambientes.
Batizado de Confraria, o evento reuniu na última terça, na Estação São Paulo, em Pinheiros, 29 fornecedores de áreas diferentes. O objetivo era mostrar aos potenciais clientes os mais variados tipos de mimo. “Quando vendemos um sonho, o céu é o limite”, diz Marina Bedaque, que organizou o rega-bofe ao lado de Tamara Barbosa. As duas trabalham como assessoras de casamento e cobram entre 5 000 e 20 000 reais por suas orientações e dicas.
O salão de festas, que pode ser alugado (de verdade) por 17 000 reais, não ganhou clima de baile dos apaixonados. Motivo? A maior parte do público era feminina. Noivas, mães, sogras e amigas, muitas amigas. “Sou eu quem decide a maioria das coisas”, conta a engenheira ambiental Juliana Salles, de 25 anos, que em vez do futuro marido trouxe a tiracolo uma colega do trabalho. Com festa marcada para ocorrer no Jockey Club, ela teve de mudar de planos às pressas. Já tinha desembolsado os 8 500 reais do aluguel, quando decidiu revisitar o local. Dessa vez, com seus pais. Chovia. A moça, assim, pôde constatar o que seria o terror de qualquer noiva: goteiras no salão. “Foi, literalmente, a gota-d’água.” Pagou multa rescisória de 50% sobre o valor de locação e assinou contrato com outra casa de eventos, a La Luna, no Butantã, por 26 000 reais. “Casar não é brincadeira”, conforma-se. Na Confraria, Juliana encomendou o bolo à Fleur de Sucre. Preço? 1 500 reais. “Agora só falta fechar com a empresa de bem-casado.” Seu casamento será realizado em abril de 2011, com gasto estimado em 150 000 reais, entre vestido, lua de mel e festa para 300 convidados.
Para os padrões de ansiedade típicos das noivas, a engenheira civil Sandra Mayumi Araki poderia se considerar tranquila. Com boda agendada para março do ano que vem, ela apenas decidiu-se pelo lugar: a Casa Petra, no Brooklin, pela qual pagou 24 000 reais. “Hoje, vim escolher o dia da noiva”, conta, toda nos trinques. “Fiz testes que ajudaram a definir a maquiagem e o penteado. Gostei.” Vai desembolsar 3 000 reais para ter todos os paparicos de beleza feitos em sua própria casa. Um dos sucessos da noite foi a agência de viagens especializada em lua de mel, a Be Happy. Sim, existe esse tipo de sofisticação nesse universo — que movimenta 10 bilhões de reais por ano no país, segundo a Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta).
Só em São Paulo, foram realizados 60 000 matrimônios em 2009. “Ilhas Maldivas e Polinésia Francesa são os destinos mais requisitados”, afirma a proprietária da empresa, Jacqueline Dallal Mikahil. “Olha ali”, diz ela, apontando para uma convidada. “É cliente minha que já casou, viajou e, mesmo assim, continua frequentando eventos para noivos.” Segundo ela, algumas mulheres — depois do “sim” — adquirem uma “doença” chamada depressão pós-casamento. “A pessoa passa dois anos da vida organizando uma festa e, de uma hora para outra, fica sem ter o que fazer. É um drama.”
Entre os poucos noivos presentes estava o contador Fabio Salgado. Namorado da advogada Vanessa Martinez desde 2008, ele a pediu em casamento há dez meses. A partir de então, abriu mão de boa parte de seus programas sociais. Idas a happy hours e a cinemas foram substituídas pela peregrinação em degustações de bolos e afins. “Estamos na maior correria”, diz Vanessa. Para ele, não é nenhum sacrifício essa via-crúcis de experimenta daqui, passa o cartão dali. “Quero estar por dentro de tudo para não me sentir um convidado no meu próprio casamento.”
http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2186/servicos-casamento