Alegria. Carol, Bebeta, Ana Letícia (de pé), Jacqueline e Erika (sentadas, da esq. para a dir.)
CASAR, UMA DOCE TAREFA CHEIA DE DETALHES
Evento Bride Style mostra que é preciso bem mais que a escolha do noivo para a festa acontecer
Evento Bride Style mostra que é preciso bem mais que a escolha do noivo para a festa acontecer
Paulo Sampaio - O Estado de S.Paulo
Uma "noiva étnica" desce a escadaria que dá no salão principal da casa de festas usando um vestido que custa R$ 15 mil; antes dela, desfilaram a "noiva folk", a " vintage", a "romântica" e a "clássica". Mais de 350 pessoas assistiram, na segunda-feira, ao Bride Style, um dos eventos mais incríveis sobre o negócio do casamento.
Ali se descobre, por exemplo, que quem prepara o bem-casado da festa não é a mesma pessoa que faz o bolo nem os docinhos. Por sua vez, os docinhos não vêm nas forminhas em que serão servidos. As forminhas são compradas em outro fornecedor. Um bem-casado sai por R$ 2,40 mas, dependendo da embalagem (crepom nacional ou italiano? Swarovski? caixinha?), pode chegar a R$ 15. Calculam-se três para cada convidado.
Cerca de seis meses antes do casamento, os noivos mandam um pré-convite que eles chamam de "save the date" (em inglês mesmo); pouco depois, um segundo aviso ("reminder") e, finalmente, o próprio envelope com o comunicado final.
O leigo se espanta com a informação de que os preparativos da festa podem começar dois anos antes, seguir uma planilha de 40 itens e custar R$ 300 mil. Aí, aparece a "assessora de casamento", papel desempenhado gloriosamente no cinema por Geraldine Chaplin (Cerimônia de Casamento, de Robert Altman, 1978). No filme, ela é tão perturbada quanto a família do noivo e, mesmo assim, se dispõe a apagar um incêndio por minuto.
"A gente faz papel de psicólogo, motorista e até de relógio. Tive um noivo que bebeu demais com amigos e perdeu a hora do casamento", conta Cris Aranha, de 42 anos, assessora há 13. Não consta dos 40 itens "lembrar o noivo do casamento" e, por isso, diz Cris, "é preciso ter o telefone até do cachorro da casa".
Folk ou vintage? "Não entendi direito essas divisões (por estilo). Tem um vestido meu (de R$ 15 mil) que é superclássico e entrou como vintage", diz a estilista Bibi Barcellos, sem reclamar. Ninguém reclama.
"É uma oportunidade fantástica para quem trabalha nesse mercado", diz Jacqueline Mikahil, agente de viagem especialista em lua de mel. Ela aproveita para sortear um pacote para Muro Alto (PE), balneário que "parece o Taiti".
"Quisemos fazer algo que não tivesse o formato de feira", diz a empresária Carol Montenegro, idealizadora do evento. Ela e a sócia costumam reunir a noiva e suas amigas no dia do casamento, em uma suíte de hotel cinco-estrelas, para maquiá-las e penteá-las. Levam garrafas de Prosecco e um videomaker.
Orquídea e coxinha. O importante é a "harmonia da festa". "Não adianta decorar o salão com orquídeas e servir coxinha", explica a assessora de casamento Bebeta Schiavini - (segundo Cris Aranha, "tem mais assessora do que homem no mercado"). De acordo com a Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta), em apenas um dia os casamentos de São Paulo consomem 1,4 milhão de flores, 400 mil doces e mais de mil horas de filmagem. Em suas pesquisas, o IBGE revela que o número de registros de casamentos no País aumentou 35% em dez anos.
Bebeta e Jacqueline comandam uma mesa com duas noivas, a mãe de uma delas e o futuro marido da outra. "Nós podemos ficar aqui oito horas falando de todos os itens", diz Bebeta. "Casamento perfeito não existe. Se a noiva é católica e quer casar na igreja, tem de combinar a data com a da lua de mel e a disponibilidade do salão, entende?"
Hipnotizadas, as duas noivas acham importante "fazer de cada dia do planejamento uma festa". "O casamento é o assunto principal da família durante um ano", diz a administradora de empresas Erika Fiore, de 27 anos, que se casa em novembro.
A noiva número 2, Ana Letícia Zogbi, de 42 anos, gosta tanto de "viver a festa" que diz ter "medo de sentir falta depois". Jacqueline conta que é comum a "depressão pós-casamento". "Onde a noiva vai colocar toda aquela emoção que preencheu quase dois anos da vida dela?"
Embora necessários, os noivos são pouco mencionados. A produtora Vera Tribuli está convencida de que o amor não é prioridade. "Tem umas noivas que dizem: "Quero um vestido lindo", mas nem sabem o que é lapela. Elas querem se vestir e casar."
À saída da casa de festas, o empresário Ricardo Sesta estacionou um modelo Packard 1938 que aluga por R$ 1.200, para levar a noiva. Diz que tem ainda um Chrysler 300C blindado e um motorista com noções de direção defensiva. Em sua felicidade transbordante, a noiva de R$ 300 mil não vai querer facilitar com o destino.
Uma "noiva étnica" desce a escadaria que dá no salão principal da casa de festas usando um vestido que custa R$ 15 mil; antes dela, desfilaram a "noiva folk", a " vintage", a "romântica" e a "clássica". Mais de 350 pessoas assistiram, na segunda-feira, ao Bride Style, um dos eventos mais incríveis sobre o negócio do casamento.
Ali se descobre, por exemplo, que quem prepara o bem-casado da festa não é a mesma pessoa que faz o bolo nem os docinhos. Por sua vez, os docinhos não vêm nas forminhas em que serão servidos. As forminhas são compradas em outro fornecedor. Um bem-casado sai por R$ 2,40 mas, dependendo da embalagem (crepom nacional ou italiano? Swarovski? caixinha?), pode chegar a R$ 15. Calculam-se três para cada convidado.
Cerca de seis meses antes do casamento, os noivos mandam um pré-convite que eles chamam de "save the date" (em inglês mesmo); pouco depois, um segundo aviso ("reminder") e, finalmente, o próprio envelope com o comunicado final.
O leigo se espanta com a informação de que os preparativos da festa podem começar dois anos antes, seguir uma planilha de 40 itens e custar R$ 300 mil. Aí, aparece a "assessora de casamento", papel desempenhado gloriosamente no cinema por Geraldine Chaplin (Cerimônia de Casamento, de Robert Altman, 1978). No filme, ela é tão perturbada quanto a família do noivo e, mesmo assim, se dispõe a apagar um incêndio por minuto.
"A gente faz papel de psicólogo, motorista e até de relógio. Tive um noivo que bebeu demais com amigos e perdeu a hora do casamento", conta Cris Aranha, de 42 anos, assessora há 13. Não consta dos 40 itens "lembrar o noivo do casamento" e, por isso, diz Cris, "é preciso ter o telefone até do cachorro da casa".
Folk ou vintage? "Não entendi direito essas divisões (por estilo). Tem um vestido meu (de R$ 15 mil) que é superclássico e entrou como vintage", diz a estilista Bibi Barcellos, sem reclamar. Ninguém reclama.
"É uma oportunidade fantástica para quem trabalha nesse mercado", diz Jacqueline Mikahil, agente de viagem especialista em lua de mel. Ela aproveita para sortear um pacote para Muro Alto (PE), balneário que "parece o Taiti".
"Quisemos fazer algo que não tivesse o formato de feira", diz a empresária Carol Montenegro, idealizadora do evento. Ela e a sócia costumam reunir a noiva e suas amigas no dia do casamento, em uma suíte de hotel cinco-estrelas, para maquiá-las e penteá-las. Levam garrafas de Prosecco e um videomaker.
Orquídea e coxinha. O importante é a "harmonia da festa". "Não adianta decorar o salão com orquídeas e servir coxinha", explica a assessora de casamento Bebeta Schiavini - (segundo Cris Aranha, "tem mais assessora do que homem no mercado"). De acordo com a Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta), em apenas um dia os casamentos de São Paulo consomem 1,4 milhão de flores, 400 mil doces e mais de mil horas de filmagem. Em suas pesquisas, o IBGE revela que o número de registros de casamentos no País aumentou 35% em dez anos.
Bebeta e Jacqueline comandam uma mesa com duas noivas, a mãe de uma delas e o futuro marido da outra. "Nós podemos ficar aqui oito horas falando de todos os itens", diz Bebeta. "Casamento perfeito não existe. Se a noiva é católica e quer casar na igreja, tem de combinar a data com a da lua de mel e a disponibilidade do salão, entende?"
Hipnotizadas, as duas noivas acham importante "fazer de cada dia do planejamento uma festa". "O casamento é o assunto principal da família durante um ano", diz a administradora de empresas Erika Fiore, de 27 anos, que se casa em novembro.
A noiva número 2, Ana Letícia Zogbi, de 42 anos, gosta tanto de "viver a festa" que diz ter "medo de sentir falta depois". Jacqueline conta que é comum a "depressão pós-casamento". "Onde a noiva vai colocar toda aquela emoção que preencheu quase dois anos da vida dela?"
Embora necessários, os noivos são pouco mencionados. A produtora Vera Tribuli está convencida de que o amor não é prioridade. "Tem umas noivas que dizem: "Quero um vestido lindo", mas nem sabem o que é lapela. Elas querem se vestir e casar."
À saída da casa de festas, o empresário Ricardo Sesta estacionou um modelo Packard 1938 que aluga por R$ 1.200, para levar a noiva. Diz que tem ainda um Chrysler 300C blindado e um motorista com noções de direção defensiva. Em sua felicidade transbordante, a noiva de R$ 300 mil não vai querer facilitar com o destino.
DEPOIMENTO
"Quem ouve o choro da noiva?"
Cris Aranha, Assessora de casamentos, de 42 anos
Tem noiva que não dá valor à "assessora de casamento" (a praxe é cobrar 15% sobre o valor total). Aí, o DJ enlouquece e põe pagode para tocar na festa. Quem vai resolver? E a goteira em cima do bolo? E o noivo que não aparece? Até isso! Tenho uma noiva de João Pessoa que achou muito contratar vans para fazer o traslado do aeroporto para o hotel. Você concorda que é indelicado pedir para as pessoas pegarem um táxi? Sem contar a parte psicológica. E a noiva que descobre que está sendo traída às vésperas da festa, com fornecedor chamando para a degustação do prato quente? Quem ouve o choro? Se bem que, às vezes, a noiva não está interessada na vida sexual do noivo. Ela só quer casar.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100916/not_imp610501,0.php
"Quem ouve o choro da noiva?"
Cris Aranha, Assessora de casamentos, de 42 anos
Tem noiva que não dá valor à "assessora de casamento" (a praxe é cobrar 15% sobre o valor total). Aí, o DJ enlouquece e põe pagode para tocar na festa. Quem vai resolver? E a goteira em cima do bolo? E o noivo que não aparece? Até isso! Tenho uma noiva de João Pessoa que achou muito contratar vans para fazer o traslado do aeroporto para o hotel. Você concorda que é indelicado pedir para as pessoas pegarem um táxi? Sem contar a parte psicológica. E a noiva que descobre que está sendo traída às vésperas da festa, com fornecedor chamando para a degustação do prato quente? Quem ouve o choro? Se bem que, às vezes, a noiva não está interessada na vida sexual do noivo. Ela só quer casar.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100916/not_imp610501,0.php